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Academia Nacional de Ciências, Letras e Artes

 
ANACLA
Biografia José de Sousa Saramago
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Esse escritor português traçou em sua epopeia um autorretrato moral que reivindicou – tanto quanto vaticinou – um lugar para a literatura social, contemporânea e, sobretudo, crítica. A matéria literária que Saramago esmiunçou vive até hoje nas ruas, em ensaios de cegueira que estão expostos nas telas dos smartphones, tanto quanto nos jornais impressos e televisivos.  Eu, você, leitor (a), e toda a humanidade somos herdeiros da fortuna crítica e literária de Saramago.
Além de romancista, Saramago também foi teatrólogo, poeta e contista. Recebeu, em 1995 o Prêmio Camões, a maior honraria literária da língua portuguesa, e, em 1998, o Prêmio Nobel de Literatura, o maior reconhecimento científico-cultural do planeta. O escritor nasceu em Azinhaga de Ribatejo, no distrito de Santarém, em Portugal, na data de 16 de novembro de 1922. Era filho de camponeses. Formou-se em escola técnica, obtendo certificação na função de serralheiro mecânico. No ofício de serralheiro, passou alguns anos de sua juventude. Mais tarde, tornou-se funcionário público na área da saúde e da Previdência Social. Era um autodidata. Lia de um tudo: literatura, filosofia, história, cultura geral...
Sua estreia na literatura veio com o romance Terra do Pecado, publicado em 1947. Desde então, teve participação ativa no cenário literário, sendo diretor de uma editora, jornalista e também tradutor. Fez parceria e, de fato, colaborou com diversos jornais e revistas, entre os quais, destacam-se o Diário de Lisboa, A Capital e a Seara Nova – nesta última foi, inclusive, cronista, alcançando fama e notoriedade entre os leitores portugueses. A aclamação internacional veiou com a obra Levantando do Chão, de 1980. Esse livro consagrou-o com o “Prêmio Cidade de Lisboa” e se tornou best-seller internacional.
Poucos leigos sabem, mas o escritor português também lançou uma obra voltada ao público infanto-juvenil. O livro se intitulada “A Maior Flor do Mundo”, publicado em 2001. Essa publicação foi escrita por Saramago e ilustrada por João Caetano. A crítica portuguesa, inclusive, concedeu o Prêmio Nacional de Ilustração à obra dado o brilhantismo da concepção figurativa proposta ao enredo fantástico. 
Pode-se dizer que o estilo saramagiano desenvolveu-se ao longo de sua obra. O escritor passou por diversas fases. A consagração veio, de fato, com a consolidação de uma espécie de historicismo fantástico, na qual o autor português instiga a imaginação de seu leitorado, fazendo uso de uma narração multivocal em que os personagens ganham vida no realismo e no fantástico, concomitantemente. É tão real quanto é fantástico. A verossimilhança se embaraça e o real fica esfumaçado. Lemos a obra de Saramago como se houvesse à nossa frente uma espécie de neblina que faz um lusco-fusco do que é ou não real. 
Além disso, há a forma poética das palavras e da pontuação que se perde, se esconde e, por vezes, desaparece. É um jogo de esconde-esconde no qual todos vemos o fantasmagórico realismo das miudezas humanas: a fragilidade da existência, a vaidade, o orgulho, a soberba, a corrupção. É na reelaboração dos fatos da história de sua terra que Saramago chega a eternidade da literatura que não precisa de um aqui e de um agora, mas de um lugar atemporal. Nas palavras do escritor, “fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória”. É essa memória que Saramago nos deixou ao partir no dia 18 de junho de 2010. 
De forma geral, a ANACLA –  que tem, como missão, difundir a ciência, a literatura e as artes como um todo – se compromete, a partir de seus membros e de toda comunidade ao seu redor, a preservar e a promover os ideais sociais e humanísticos que estão registrados na obra de Saramago, como também na de tantos outros poetas, romancistas e artistas, nacionais e internacionais. É nesse sentido que os Anaclianos se reúnem e se esforçam para que a cultura chegue a todos. É também nesse sentido que, como membro e em respeito ao meu patrono, estou comprometido a difundir a ciência, a literatura e as artes agora, amanhã e sempre!

Postado por Mara Viana   Artigo 7   15/09/2022